domingo, 22 de agosto de 2004

A Umbanda Mística

A Umbanda Mística tem por base a religião e a fé. Diz o místico que, quando todos os recursos materiais se esgotarem, restará a fé, que, pela crença e devoção em Deus, seus Santos e mensageiros, conseguem o milagre, que a medicina e a ciência não conseguem explicar.
Em outras palavras: quando toda a sabedoria humana e todos os remédios falharem, a fé faz o milagre.Jesus era místico, porque curava pela fé.
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Ele disse: “Se tiverdes fé fareis as obras que eu faço e outras muito maiores”.
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Diz ainda o místico que, para se fazer milagres, é preciso estar fora das condições humanas normais, pela fé e o amor a Deus e seus mensageiros, os Santos.
O místico crê que para Deus tudo é possível e que os milagres são provas que Deus nos dá para provar que nada sabemos e nada somos em sua divina presença. Por isso o místico usa muitas orações para todas as coisas materiais e espirituais, em forma de rezas e benzeções.

O Sacramento do Batizado

O batizado, como já referi, foi introduzido na Umbanda Mística através do batizado de emergência, que a Igreja Católica autorizou o Beato-Rezador a fazer. Depois, foi modificado o seu ritual, com o aparecimento dos rezadores e adesão ao espiritismo.
Foi a época em que começaram a baixar os Espíritos-Guias de Caboclos (as), Pretos (as) Velhos (as) e crianças; mas, pela fé, os adeptos começaram a optar para que os Espíritos-Guias fizessem o batizado e, mais tarde, que fossem os padrinhos espirituais. Nesta época, já se fazia o banho de descarrego, para afastar os maus espíritos e sofredores que eram chamados de quiumbas. Foi então que Guias protetores dos adeptos começaram a usar folhas e ervas de cheiro forte, de que os quiumbas não gostavam; com isto, estes se afastavam de suas vitimas.
Daí a conveniência de usar estas folhas para fazer o batizado – arruda, guine e alecrim-de-cheiro -, usadas também para as defumações. Com o bom resultado, o cruzamento passou a preceder o batizado, dando a este uma maior força espiritual contra o coisa-ruim e os quiumbas (espíritos sofredores, perturbadores das pessoas), tornando o batizado mais forte e eficaz. Começou-se também a batizar imagens de Santos da Igreja Católica, que eram os patronos dos terreiros da Umbanda Mística. Com a influencia negra, cada Santo Católico passou a ser filho de um Orixá.
Assim, cada adepto passou a ter seu Santo Católico como padroeiro (pai-de-cabeça), adquiria a imagem que o representava, e a entronizava em sua casa. Para estas imagens de Santos-Orixás, fazia-se também o batizado, que dava aos adeptos mais força espiritual, afastava os quiumbas e o coisa-ruim das suas casas e trazia-lhes a benção, a paz e a felicidade almejadas. E os adeptos acendiam velas e rezavam diariamente em suas casas.
Notem: todo batizado é feito em dia de festa de Santo da Igreja Católica, e com comes e bebes.
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Entre os dias mais usados, estão:
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O dia 6 de janeiro dia dos Reis Magos – dia da Linha do Oriente, Linha cor-de-rosa, Linha das crianças-santas.
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O dia 20 de janeiro dia de São Sebastião – dia de Oxossi, dia da Linha dos Caboclos e índios.
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O dia 25 de janeiro dia do Apóstolo São Paulo de Tarso – dia da Linha dos médiuns e videntes, dia da linha dos convertidos que eram profanos, entre eles, são Marcos, são Cipriano, São Mâncio, e outros.
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O dia 19 de março dia de São Jose – dia de Xangô-Aganju, dia da Linha dos Santos casados, dia dos padrinhos (diz-se que São Jose foi pai adotivo de Jesus, e que foi padrinho também; por isso ele é o padrinho de todos os umbandistas, juntos com Nossa Senhora da Penha, que é a madrinha).
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O dia 23 de abril dia de São Jorge – dia de Ogum, dia da linha dos Santos que protegem, amparam e guiam os filhos de Umbanda, entre eles, Nossa Senhora da Guia, Nossa Senhora do Bom Parto, Nossa Senhora do Carmo, e outros.
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O dia 29 de abril dia de Santa Terezinha do menino Jesus – dia da Linha das Santas Virgens, dia da Linha das sereias.
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O dia 13 de maio dia da libertação (abolição) dos negros da escravidão – dia da Linha africana, dia da Linha dos Pretos Velhos.
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O dia 13 de junho dia de Santo Antonio de Lisboa (Santo casamenteiro) – dia de Ogum General (dizem que ele abandonou a farda e foi ser padre).
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O dia 24 de junho dia de São João Batista – dia de Xangô-Caô, dia da Linha dos Santos Mártires, que morreram pela fé, queimados vivos, esquartejados vivos, degolados (dizem que São João Batista foi degolado, sua cabeça posta em uma bandeja e ofertada à rainha).
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O dia 29 de junho dia de São Pedro – dia de Xangô-Agodô, dia da Linha das parteiras, dia da Linha dos chaveiros.
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O dia 26 de julho dia de Santa Ana, mãe de Nossa Senhora e esposa de São Joaquim – dia de Nanã Buruquê, dia da Linha das vovós.
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O dia 15 de agosto dia de São Benedito – dia de Oxossi-Mata-Lombô, dia da Linha dos Caboclos africanos.
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O dia 16 de agosto dia de São Roque – dia de Abaluaê, dia da Linha dos curandeiros.
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O dia 27 de setembro dia de São Cosme e São Damião – dia de Ibêji, dia da Linha das crianças.
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O dia 29 de setembro dia de São Miguel Arcanjo (Anjo) – dia da Linha de todos os Anjos da guarda, dia de desmanchar pacto com o diabo.
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O dia 30 de setembro dia de São Jerônimo – dia de Xangô-de-Alafim, dia da Linha da justiça (“quem deve, paga”).
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O dia 1º de novembro dia de todos os Santos – dia de recolhimento e prece.
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O dia 2 de novembro dia dos finados (mortos) – dia da Linha das almas.
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O dia 25 de novembro dia de Santa Catarina – dia de Iansã menina, dia da Linha das onze mil virgens.
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O dia 4 de dezembro dia de Santa Bárbara – dia de Iansã, dia da linha das Santas Guerreiras.
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O dia 8 de dezembro dia de Nossa Senhora da Conceição – dia de Iemanjá e Oxum, dia da Linha das iaras e mães d’água.
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O dia 25 de dezembro o dia do Natal, dia do menino Jesus – dia de Oxalá, dia da missa do galo.
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O dia 31 de dezembro o ultimo dia do ano – dia de se romper o que está preso, dia de Iemanjá, dia de se fazer pedidos para casamento.

O Sacramento do Cruzamento

O cruzamento foi o primeiro sacramento que o Beato-Rezador instituiu, quando começaram a aparecer os primeiros rezadores da Umbanda Mística.
Estes adeptos místicos, pelas suas concentrações e exteriorizações, começaram a receber incorporações de espíritos sofredores e mesmo de Espíritos-Guias, a que davam o nome de Caboclos ou Pretos Velhos. Quando um adepto ou não-adepto era possuído pelo sofredor ou coisa-ruim, Exu ou zombeteiro, o Beato-Rezador o benzia, aspergindo em cruz a água benta que se adquiria na igreja católica; o sofredor ou coisa-ruim se afastava, e a pessoa tomava o conhecimento de sua personalidade.
Com a infiltração do negro, do mestiço e do índio como adeptos (médiuns), passou-se a fazer sete cruzes com a água benta e a usar folhas de guine, de arruda e de alecrim-de-cheiro, que era molhadas na água benta, e com, isso o resultado era melhor.
Mas o negro, conhecedor da pemba, originada da África, começou a encomendar aos tripulantes dos navios mercadores que faziam a rota pela África, a dita pemba, com a qual fazia as sete cruzes nos possessos de espíritos sofredores e do coisa-ruim. O resultado foi melhor, mas não deixaram de cruzar com a água benta e as três ervas sagradas – a guine, a arruda e o alecrim. Mas o numero de pessoas e adeptos que caiam possessos diminuiu, e quase se extinguiu.
Com isso, os iniciadores de adeptos passaram a cruzar, instituindo o primeiro sacramento, que não era de origem católica. E toda a pessoa que quisesse ser adepto (a) teria que fazer o sacramento de cruzamento, que foi aperfeiçoado com o tempo.
Já na década de cinqüenta a Umbanda Mística exercia seus sacramentos todos, e o cruzamento se fazia:
A - Cruzando o possesso com pemba, para afastar o sofredor ou coisa-ruim.
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B - Cruzando os médiuns, para que não recebessem o sofredor e sim o Guia, como o Caboclo, o Preto Velho ou Criança.
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C - Cruzando imagens, objetos e casas, para lhes dar mais força, e para se responder os pedidos sem a interferência dos sofredores e maus espíritos.
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D - O cruzamento que precedia a todos os outros sacramentos: até nas oferendas se cruzava o alguidar (prato ou panela), antes de se depositar a oferenda; o galo ou outros animal era cruzado, antes de ser sacrificado à entidade espiritual. Enfim, tudo era cruzado: guia-colar, cachimbo, coité, punhal, toco (banquinho), bengala, etc.
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E - O Sacramento do cruzamento é uma espécie de “fechamento de corpo”, para que os espíritos inconvenientes ou coisa-ruim não possam mais se apoderar da pessoa, médiuns ou adepto.
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Notem: todo sacramento feito na Umbanda Mística é acompanhado de festas e comes e bebes, o que é de tradição, e, geralmente, quem faz o sacramento do cruzamento é o Guia-Chefe espiritual do terreiro.

Umbanda Kardecista

Na Umbanda Kardecista ou linha branca de Umbanda, os adeptos se limitam a doutrinar espíritos que se encontram perturbando alguém.
Para isto, ocupam o médium como receptáculo do sofredor, para este orientado e guiado no caminho da luz. Os Guia-Caboclos, velhos e crianças se encarregam das consultas, passes, receitas de banhos de ervas etc., e dão conselhos, fazem palestras para os médiuns e para o publico baseados no livro dos médiuns, no livro dos espíritos e outros de origem kardecista.
Mas veneram os Orixás, cultuam altares e imagens de origem católica e fazem grandes reuniões na praia, na mata, na cachoeira e ate em estádios de futebol (para fins políticos).
Em resumo:
Os adeptos da Umbanda Mística crêem e aguardam o milagre;
Os adeptos da Umbanda Esotérica estudam e procuram as forças mágicas para resolverem as questões de ordem material e espiritual;
Os adeptos da Umbanda Kardecista se limitam ao mundo espiritual, fazendo passes e doutrinando espíritos segundo os preceitos de kardec, para ganharem a luz espiritual e melhorarem seu carma em futuras encarnações.
Além disso, há os adeptos que misturam a Umbanda Mística, a Esotérica e a Kardecista.

A Umbanda Esotérica

A Umbanda Esotérica estuda as forças sutis da natureza pelas quais Deus, seus anjos, Orixás, gênios e espíritos se manifestam, criando, cuidando e renovando tudo do reino mineral, vegetal e animal, dos elementos, como fogo, terra, ar e água, e também dos mundos espirituais, das outras dimensões, das virtudes, correntes. As forças da natureza têm suas leis próprias, por exemplo:
A adivinhação pela lei da causa e efeito;
Os castigos pela lei dos contrários ou lei do retorno;
O êxito pela mesma lei (“Quem dá receberá, e quem recebe dará”), e outras.
A Umbanda Esotérica estuda também a astrologia, isto é, forças e emanações dos “astros” (digo “astros” porque não são planetas e nem signos do zodíaco, embora a=ocupem os nomes destes); a parapsicologia, ou seja, fenômenos de ordem material e espiritual; a psicologia, ou estudo do comportamento; a fisiognomonia, para se conhecer o caráter das pessoas e que os estão sentindo, alem da grafologia, quiromancia etc.
A Umbanda Esotérica estuda também a força que cada planta tem para o uso medicinal e espiritual, pela vibração e irradiação, e estuda as religiões (teologia), a simbologia que abrange os pontos riscados, pentáculos, cadeias mágica, talismãs, amuletos, letras, números, desenhos, imagens, flâmulas, cores, símbolos astrológicos, planetários; e tudo que representa uma foca negativa ou positiva, representativa ou indicativa do que precisamos para agir e usufruir, ou ainda nos orientar em uma missão determinada ou trabalho a executar em beneficio de alguém ou de si mesmo, material ou espiritual.
Notem que: a Umbanda Esotérica abrange todas as religiões, seitas e credos, porque tem que estuda-los, enquanto a Umbanda Mística estuda a lei da causa e efeito, por causa da sua fé, crença e amor a Deus, e por aceitar o milagre inexplicável.

Exu - O perfil do Orixá

Exu é a figura mais controvertida dos cultos afro-brasileiros e também a mais conhecida. Há, antes de mais nada, a discussão se Exu é um Orixá ou apenas uma Entidade diferente, que ficaria entre a classificação de Orixá e Ser Humano.
Sem dúvida, ele trafega tanto pelo mundo material (ayé), onde habitam os seres humanos e todas as figuras vivas que conhecemos, como pela região do sobrenatural (orum), onde trafegam Orixás, Entidades afins e as Almas dos mortos (eguns). Esse Orixá (ou Entidade) não deve ser confundido com os eguns, apesar de transitar na mesma Linha das Almas (uma das três linhas independentes) sendo o seu dia a segunda-feira; ficando sob o seu controle e comando, os Kiumbas (espíritos atrasadíssimos na evolução).
Exu é figura de status entre os Orixás, que apesar de ser subordinado ao poder deles, constitui uma figura tão poderosa que freqüentemente desafia as próprias divindades. Sua função e condição de figura-limite entre o astral e a matéria, se revela em suas cores, o negro e o vermelho, sendo esta última a vibração de menor freqüência no espectro do olho humano, abaixo do qual tudo é negro, há ausência de luz. Seus aspectos contraditórios também podem ser analisados sob outro ponto de vista: o negro significa em quase todas as teologias o desconhecido; o vermelho é a cor mais quente, a forte iluminação em oposição à escuridão do negro. Até em suas cores, Exu é o símbolo das grandes contradições, do amplo terreno de atuação.
Os Exus são considerados entidades poderosas, mas nem sempre conscientes dessa força, desconhecendo seus limites e suas conseqüências ao envolver os seres humanos vivos. Assim ao utilizar-se de suas vibrações, um iniciado precisa tomar cuidado para não permitir que Exu, mesmo com o propósito de ajudá-lo, provoque um descontrole energético que possa ser prejudicial ao ser humano.
Sua função mítica é a de mensageiro - é o que leva os pedidos e oferendas do homens aos Orixás, já que o único contato direto entre essas diferentes categorias só acontece no momento da incorporação, quando o corpo do ser humano é tomado pela energia e pela consciência do seu Orixá pessoal (quando a consciência de quem carrega o Orixá desaparece). É Exu quem traduz as linguagens humanas para a das divindades.
Por isso, é imprescindível para a realização de qualquer ritual, porque é o único que efetivamente assegura em uma dimensão (ayé ou orum) o que está acontecendo na outra, abrindo os caminhos para os Orixás se aproximarem dos locais onde estão sendo cultuados. O poder de comunicar e ligar, confere à ele também o oposto; a possibilidade de desligar e comprometer qualquer comunicação. Se possibilita a construção, também permite a destruição.
Esse poder foi traduzido mitologicamente no fato de Exu habitar as encruzilhadas, passagens, os diferentes e vários cruzamentos entre caminhos e rotas, e ser o senhor das porteiras, portas entradas e saídas. Isso não entra em contradição com o fato de Ogum, o Orixá da guerra, ser considerado o senhor dos caminhos. Além da grande afinidade entre as duas figuras míticas (que são irmãos, de acordo com as lendas), Ogum é responsável pelo desbravamento, pelo desmatar e o criar de novos caminhos, pela expansão do reino, enquanto Exu é o senhor da força que percorre esses caminhos.Como, então, essa imagem de menino brincalhão, mesmo que imprudente, se coaduna com a imagem popular que associa Exu ao Diabo? Mesmo em cultos de Umbanda (alguns) Exu é freqüentemente considerado um representante do mal, das forças perigosas e não totalmente recomendáveis.
Qual visao esta correta ?
A rigor, ambas ou nenhuma delas. Exu realmente brinca e se diverte, possibilitando brincadeiras e prazeres aos seres humanos. Também mexe com forças terríveis, provoca acontecimentos dramáticos, causando o mal. Em termos históricos, as culturas africanas que cultuam os Orixás - muito diversificadas, conseqüência evidente de uma sociedade dividida em raças, tribos, muito pouco centralizada para os parâmetros ocidentais - são muito mais antigas que as que conhecemos. Há lendas de Orixás que se explicam como respostas socialmente criativas a acontecimentos perdidos num longínquo passado, como a substituição do matriarcado pelo patriarcado, o surgimento do primeiro conceito de sociedade agrária, em oposição a uma cultura nômade e caçadora.
Assim, como encontrar uma figura que representa o mal numa cultura onde não existe a dicotomia bem-mal? A moralidade ou imoralidade portanto, não está nas figuras dos Orixás, nem principalmente em Exu, mas sim nas interpretações que nós, ocidentais, fazemos a respeito de seus desígnios.
Para a cultura africana, politeísta, onde os deuses brigam entre si, cada um tomando atitudes radicalmente opostas às dos outros, não existe um certo e um errado, mas vários. Cada ser humano é filho de dois Orixás e, para ele, suas atitudes serão as mais corretas, enquanto um filho de outro Orixá deverá manter postura diferente, mas adaptada ao arquétipo de comportamento associado ao seu próprio Orixá. Outra razão de confusão vem do fato de os negros terem chegado ao Brasil na condição de escravos, tratados como subumanos e sem os mínimos direitos.
Nenhuma hipótese havia, portanto, para que Exu e outras figuras míticas do Candomblé e da Umbanda, fossem aceitas como independentes: os negros tinham de ser convertidos ao Deus Único, aos mitos cristãos. Uma divindade africana ao ser capturada pelas explicações católicas, teria no máximo o status de santo, divindade menor, praticamente humana, na teologia cristã.
Exatamente por isso, Exu era a divindade que protegia, na medida do possível, os negros dos repressivos senhores. Era para Exu que pediam desgraças para seus senhores.
Dois outros fatores associam Exu ao Demônio; o fogo - elemento do Diabo e também freqüente nos cultos e oferendas para o mensageiro dos Orixás africanos - e o sexo, território considerado tabu pelos católicos, e o prazer - em geral, as atividades favoritas de Exu. A sensualidade desenfreada costuma ser atribuída à influência de Exu, que significa a paixão pelo gozo, sendo freqüentemente representado em estatuetas, como figura humana sorridente, debochada.
Para completar os tabus que marcavam Exu como uma figura que subvertia o conceito de faça o bem e será recompensado, faça o mal e será punido - já que ele podia fazer qualquer coisa e alterar qualquer resultado - mas um fator fez com que fosse não só usado como o Diabo mas reconhecido como sua própria encarnação por parte dos jesuítas: Exu gosta de sangue. É costume que, em oferendas, o sangue de animais seja o último ingrediente. Como, porém, essa base filosófica africana foi esquecida na prática pelos brasileiros, existe certo temor e preconceito com relação a Exu.
Isso se revela no temor que os babalorixás (sacerdotes que dirigem a Umbanda ou um Candomblé) têm em identificar alguém como filho de Exu, ou seja, como pessoas cuja energia básica é a mesma do mensageiro dos deuses. Reforçam-se assim, os mitos de desgraça que ronda a figura de Exu. A Pomba-gira, figura comum nos cultos de Umbanda e presente em diversos Candomblés, dada a grande intercomunicação entre as duas vertentes, não passa, de um Exu Feminino, onde estão em destaque o senso de humor debochado, a voluptuosidade e sensibilidade desenfreadas, usando cabelos soltos, saias rodadas e vaidosas flores na cabeça.
Sua dança é uma gira frenética, desenfreada, violenta até, com quase nenhum controle - sem compostura, de acordo com a visão ocidental.

Caracteristicas dos filhos de Exu

São muitas as pessoas que têm Exu, como fonte energética principal, mas são poucas as que o sabem. É comum um certo temor do pai-de-santo em comunicar ao iniciado que é um filho de Exu (englobado na Linha das Almas), após a confirmação do jogo de búzios. Acontece que os mitos ocidentais e orientais de perigo e desgraça que andam junto de Exu, fazem com que a pessoa que está sob a égide desse Orixá seja considerada uma perseguida da sorte, marcada pelo destino, e são comumente apontados como sofredores, como se ligados ao mal ou ao padecimento.
O arquétipo psicológico associado aos filhos de um Orixá é a síntese das características comportamentais que fazem parte de cada Orixá e que são atribuídas aos seus filhos. Não deve ser encarado como camisa de força que limite os seres humanos, mas guias de comportamento. Essas guias de comportamento ou matrizes, são os Orixás.
No caso dos filhos de Exu, suas características principais seriam a ambivalência e o relativismo, a falta de posturas morais rígidas e inabaláveis, preferindo certo apego à maleabilidade e ao pragmatismo que faz cada situação ser encarada como totalmente independente de outra, cada uma, portanto, merecendo uma saída diferente.

Iansã - O perfil do Orixá

Iansã é um Orixá feminino muito famoso no Brasil, sendo figura das mais populares entre os mitos da Umbanda e do Candomblé em nossa terra e também na África, onde é predominantemente cultuada sob o nome de Oyá. É um dos Orixás do Candomblé que mais penetrou no sincretismo da Umbanda, talvez por ser o único que se relaciona, na liturgia mais tradicional africana, com os espíritos dos mortos (Eguns), que têm participação ativa na Umbanda, enquanto são afastados e pouco cultuados no Candomblé.
Em termos de sincretismo, costuma ser associada à figura católica de Santa Bárbara, talvez por causa do raio, já que a santa é sempre invocada para proteger um fiel de uma tempestade. O mesmo acontece com Oyá, que deve ser saudada após os trovões, não pelo raio em si (propriedade de Xangô ao qual ela costuma ter acesso), mas principalmente porque tem sido Iansã uma das mais apaixonadas amantes de Xangô, o senhor da justiça não atingiria quem se lembrasse do nome da amada.
Ao mesmo tempo, ela é a senhora do vento e, conseqüentemente, da tempestade. Nas cerimônias da Umbanda e do Candomblé, Iansã, ela surge quando incorporada a seus filhos, como autêntica guerreira, brandindo sua espada, ameaçando os outros, prometendo a guerra, sempre guerreira e, ao mesmo tempo, feliz. Ela sabe amar, e gosta de mostrar seu amor e sua alegria contagiantes da mesma forma que desmedida com que exterioriza sua cólera.
Como a maior parte dos Orixás femininos cultuados inicialmente pelos nagôs (ou iorubas, outro nome para a mesma cultura) é a divindade de um rio conhecido internacionalmente como rio Niger, ou Oyá, pelos africanos, isso, porém, não deve ser confundido com um domínio sobre a água.
A figura de Iansã sempre guarda boa distância das outras personagens femininas centrais do panteão mitológico africano, se aproxima mais dos terrenos consagrados tradicionalmente ao homem, pois está presente tanto nos campos de batalha, onde se resolvem as grandes lutas, como nos caminhos cheios de risco e de aventura - enfim, está sempre longe do lar; Iansã não gosta dos afazeres domésticos.
É extremamente sensual, apaixona-se com freqüência e a multiplicidade de parceiros é uma constante na sua ação, raramente ao mesmo tempo, já que Iansã costuma ser íntegra em suas paixões; assim nada nela é medíocre, regular, discreto, suas zangas são terríveis, seus arrependimentos dramáticos, seus triunfos são decisivos em qualquer tema, e não quer saber de mais nada, não sendo dada a picuinhas, pequenas traições.
É o Orixá do arrebatamento, da paixão.

Caracteristicas dos filhos de Iansã

Arquetipicamente, Iansã é a mulher guerreira que, em vez de ficar no lar, vai à guerra. São assim os filhos de Iansã, que preferem as batalhas grandes e dramáticas ao cotidiano repetitivo. Costumam ver guerra em tudo, sendo portanto competitivos, agressivos e dados a ataques de cólera.
Ao contrário, porém, da busca de certa estratégia militar, que faz parte da maneira de ser dos filhos de Ogum, que enfrentam a guerra do dia-a-dia, os filhos de Iansã costumam ser mais individualistas, achando que com a coragem e a disposição para a batalha, vencerão todos os problemas, sendo menos sistemáticos, portanto, que os filhos de Ogum.
São quase que invariavelmente de Iansã, os personagens que transformam a vida num buscar desenfreado tanto de prazer como dos riscos.
São fortemente influenciados pelo arquétipo da deusa aquelas figuras que repentinamente mudam todo o rumo da sua vida por um amor ou por um ideal. Faz parte dos filhos de Iansã a maior arte dos militantes políticos não cerebrais por excelência. Ao mesmo tempo, quando rompem com uma ideologia e abraçam outra, vão mergulhar de cabeça no novo território, repudiando a experiência anterior de forma dramática e exagerada, mal reconhecendo em si mesmos, as pessoas que lutavam por idéias tão diferentes.
Talvez uma súbita conversão religiosa, fazendo com que a pessoa mude completamente de código de valores morais e até de eixo base de sua vida, pode acontecer com os filhos de Iansã num dado momento de sua vida. Da mesma forma que o filho de Iansã revirou sua vida uma vez de pernas para o ar, poderá novamente chegar à conclusão de que estava enganado e, algum tempo depois, fazer mais uma alteração - tão ou mais radical ainda que a anterior.
O temperamento dos que têm Oyá como Orixá de cabeça, costuma ser instável, exagerado, dramático em questões que, para outras pessoas não mereceriam tanta atenção e, principalmente, tão grande dispêndio de energia.
São do tipo Iansã, aquelas pessoas que podem ter um desastroso ataque de cólera no meio de uma festa, num acontecimento social, na casa de um amigo - e, o que é mais desconcertante, momentos após extravasar uma irreprimível felicidade, fazer questão de mostrar, à todos, aspectos particulares de sua vida. Como esse arquétipo que gera muitos fatos, é comum que pessoas de Iansã surjam freqüentemente nos noticiários.
Ao mesmo tempo, é um caráter cheio de variações, de atitudes súbitas e imprevisíveis que costumam fascinar (senão aterrorizar) os que os cercam e os grandes interessados no comportamento humano. Os Filhos de Iansã são atirados, extrovertidos e chocantemente diretos. Às vezes tentam ser maquiavélicos ou sutis, mas só detidamente.
A longo prazo, um filho de Iansã sempre acaba mostrando cabalmente quais seus objetivos e pretensões. Eles têm uma tendência a desenvolver vida sexual muito irregular, pontilhada por súbitas paixões, que começam de repente e podem terminar mais inesperadamente ainda. São muito ciumentos, possessivo, muitas vezes se mostrando incapazes de perdoar qualquer traição - que não a que ele mesmo faz contra o ser amado.
Ao mesmo tempo, costumam ser amigos fiéis para os poucos escolhidos ara seu círculo mais íntimo. Um problema, porém, pode atrapalhar tudo: a inconstância com que vê sua vida amorosa; outros detalhes podem também contaminar os aspectos profissionais.
Todas essas características criam uma grande dificuldade de relacionamentos duradouros com os filhos de Iansã. Se por um lado são alegres e expansivos, por outro, podem ser muito violentos quando contrariados; se têm a tendência para a franqueza e para o estilo direto, também não podem ser considerados confiáveis, pois fatos menores provocam reações enormes e, quando possessos, não há ética que segure os filhos de Iansã, dispostos a destruir tudo com seu vento forte e arrasador.

Ibeji - O perfil do Orixá

Ibeji, o único Orixá permanentemente duplo, aproxima-se de Exu pelo seu comportamento arquetípico independente. É formado por duas entidades distintas e sua função básica é indicar a contradição, os opostos que coexistem.
Num plano mais terreno, por ser criança. A ele é associado a tudo o que se inicia: a nascente de um rio, o germinar das plantas, o nascimento de um ser humano. Seus filhos são pessoas com o temperamento infantil, brincalhonas, sorridentes, irrequietas, de muita energia nervosa. Como marca física, aparentam menos idade do que realmente possuem.
São muito dependentes em seus relacionamentos emocionais, quase sempre teimosos e possessivos. Ágeis no caminhar, não têm paciência para ficar parados por muito tempo. Odeiam profissões burocráticas e preferem os esportes onde descarregam a e energia e possam competir ou as carreiras que possibilitem algum prazer lúdico.
São muito cativantes e carinhosos, com uma sensibilidade sempre à flor da pele; por isso mesmo, magoam-se com facilidade, exageram as contrariedades e agressões que recebem e se deixam levar por mal-entendidos. Gostam de vinganças, que costumam ser rápidas e esquecidas. Tendem a simplificar as coisas, reduzindo o comportamento dos outros a princípios simplistas como gosta de mim - não gosta de mim Como a maior parte das crianças, gosta de estar em meio a muita gente.
As pessoas da Umbanda freqüentemente temem Ibeji: poderoso como todo o Orixá, a criança-divindade, entretanto, entende os pedidos de maneira simplista, o que pode levar a conseqüências não previstas pelas entidades em geral. Por outro lado, têm a reputação de ser extremamente fiéis às pessoas que conquistam sua confiança.
No dia de Ibeji, 27 de setembro (o mesmo de Cosme e Damião, com quem são sincretizados), é costume as casas de culto abrirem suas portas e oferecerem mesas fartas de doces e comidas para as crianças, elevadas à condição de representantes na terra do Orixá.
Qualquer participação de Ibeji em cerimônias, dá um toque alegre e inconseqüente à ela, sendo freqüente que as comidas ritualísticas a eles oferecidas recebam enfeites como fitas de cetim em cores vivas.
A Ibeji se oferece todas as cores vivas e as roupas de seus filhos, em cerimônia, são multicoloridas. São homenageados aos domingos, recebendo como comidas rituais, doces, bolinhos, balas, e refrigerantes. A saudação ao Ibeji é Beje ó ró La ó.

Nanã - O perfil do Orixá

Esta é uma figura muito controvertida do panteão africano. Ora perigosa e vingativa, ora praticamente desprovida de seus maiores poderes, relegada a um segundo plano amargo e sofrido, principalmente ressentido, Nanã possui não dois lados, como tantos Orixás, mas sim um Orixá dentro do outro, um conceito que foi sendo gradativamente substituído por outro, dando margem a muita confusão e contestação no jeito de se defini-la.
Nanã, é um Orixá feminino de origem daomeana, que foi incorporado há séculos pela mitologia ioruba, quando o povo nagô conquistou o povo do Daomé (atual República do Benin) , assimilando sua cultura e incorporando alguns Orixás dos dominados à sua mitologia já estabelecida. Resumindo esse processo cultural, Oxalá (mito ioruba ou nagô) continua sendo o pai e quase todos os Orixás.
Iemanjá (mito igualmente ioruba) é a mãe de seus filhos (nagô) e Nanã (mito jeje) assume a figura de mãe dos filhos daomeanos, nunca se questionando a paternidade de Oxalá sobre estes também, paternidade essa que não é original da criação das primeiras lendas do Daomé, onde Oxalá obviamente não existia. Os mitos daomeanos eram mais antigos que os nagôs (vinham de uma cultura ancestral que se mostra anterior à descoberta do fogo).
Tentou-se, então, acertar essa cronologia com a colocação de Nanã e o nascimento de seus filhos, como fatos anteriores ao encontro de Oxalá e Iemanjá. Muitas pesquisas apontam ainda que os iorubas começaram a ter um conceito de Deus Supremo antes inexistente, e que esse conceito pode (fato não comprovado) ser conseqüência da influência dos maometanos do norte da África sobre a população negra mais próxima.
Assim Nanã assume, como outros Orixás femininos, o conceito de maternidade como função principal.
É neste contexto, a primeira esposa de Oxalá, tendo com ele três filhos: Iroco (ou Tempo), Omolu (ou Obaluaê) e Oxumarê.
Pierre Verger aponta que Nanã, no culto daomeano, teria um posto hierárquico semelhante ao de Oxalá ou até mesmo do Deus Supremo Olorum. Neste contexto, era uma figura feminina mas às vezes também alguém acima das distinções macho e fêmea, pois constituía, num par completo, pai e mãe unificados de todas as coisas, fossem os seres humanos, fossem os Orixás. Nanã faz o caminho inverso da mãe da água doce.
É ela quem reconduz ao terreno do astral, as almas dos que Oxum colocou no mundo real. É a deusa do reino da morte, sua guardiã, quem possibilita o acesso a esse território do desconhecido. A senhora do reino da morte é, como elemento , a terra fofa, que recebe os cadáveres, os acalenta e esquenta, numa repetição do ventre, da vida intra-uterina.
É, por isso, cercada de muitos mistérios no culto e tratada pelos praticantes da Umbanda e do Candomblé, com menos familiaridade que os Orixás mais extrovertidos como Ogum e Xangô, por exemplo. Muitos são portanto os mistérios que Nanã-terra esconde, pois nela entram os mortos e através dela são modificados para poderem nascer novamente.
Só através da morte é que poderá acontecer para cada um a nova encarnação, para novo nascimento, a vivência de um novo destino – e a responsável por esse período é justamente Nanã. Ela é considerada pelas comunidades da Umbanda e do Candomblé, como uma figura austera, justiceira e absolutamente incapaz de uma brincadeira ou então de alguma forma de explosão emocional.
Por isso está sempre presente como testemunha fidedigna das lendas. Jurar por Nanã, por parte de alguém do culto, implica um compromisso muito sério e inquebrantável, pois o Orixá exige de seus filhos-de-santo e de quem o invoca em geral a mesma e sempre relação austera que mantém com o mundo.

Caracteristicas dos filhos de Nanã

Uma pessoa que tenha Nanã como Orixá de cabeça (mãe no Eledá), pode levar em conta principalmente a figura da avó: carinhosa às vezes até em excesso, levando o conceito de mãe ao exagero, mas também ranzinza, preocupada com detalhes, com forte tendência a sair censurando os outros.
Não tem muito senso de humor, o que a faz valorizar demais pequenos incidentes e transformar pequenos problemas em grandes dramas. Ao mesmo tempo, tem uma grande capacidade de compreensão do ser humano, como se fosse muito mais velha do que sua própria existência. Por causa desse fator, o perdão aos que erram e o consolo para quem está sofrendo é uma habilidade natural.
Nanã, através de seus filhos-de-santo, vive voltada para a comunidade, sempre tentando realizar as vontades e necessidades dos outros. Às vezes porém, exige atenção e respeito que julga devido mas não obtido dos que a cercam. Não consegue entender como as pessoas cometem certos enganos triviais, como optam por certas saídas que para um filho de Nanã são evidentemente inadequadas.
É o tipo de pessoa que não consegue compreender direito as opiniões alheias, nem aceitar que nem todos pensem da mesma forma que ela. Suas reações bem equilibradas e a pertinência das decisões, as mantém sempre no caminho da sabedoria e da justiça.Todos esses dados indicam também serem os filhos de Nanã, um pouco mais conservadores que o restante da sociedade, desejarem a volta de situações do passado, modos de vida que já se foram.
Querem um mundo previsível, estável ou até voltando para trás: são aqueles que reclamam das viagens espaciais, dos novos costumes, da nova moralidade, etc.
Quanto à dados físicos, são pessoas que envelhecem rapidamente, aparentando mais idade do que realmente têm.

Obá - O perfil do Orixá

Orixá ioruba semelhante à Oya. Orixá do rio Obá, foi a terceira das esposas de Xangô, e também mulher de Ogum. Segundo uma lenda de Ifá, Obá era muito enérgica e forte, mais que alguns orixás masculinos, vencendo na luta, Oxalá, Xangô e Orunmilá.
A rivalidade surgiu entre ela e Oxum. Esta jovem e elegante. Obá mais velha e sem muita vaidade, mas com pretensão ao amor de Xangô. Sabendo o quanto este era guloso, procurava sempre surpreender os segredos da receitas de cozinha utilizada por Oxum, que irritada decidiu-se pregar-lhe uma peça, quando um dia pediu-lhe que viesse assistir a preparação de determinado prato, que, segundo Oxum, Xangô, o esposo comum, adorava.
Quando Obá chegou, Oxum, estava com a cabeça coberta com um pano que lhe escondia as orelhas, e, cozinha uma sopa na qual boiavam dois cogumelos.
Oxum mostrou dizendo que havia cortado as próprias orelhas, colocando na sopa, para preparar o prato predileto de Xangô. Quando lhe foi servido, tomou com apetite e satisfação, retirando-se, todo gentil na companhia de Oxum. Na semana seguinte que era a vez de Obá cuidar de Xangô, decidiu fazer a receita predileta de Xangô, cortou uma de suas orelhas e cozinhou com a sopa. Xangô ficou repugnado e furioso com a cena.
Neste momento apareceu Oxum, retirou seu lenço, onde Obá viu que as orelhas de Oxum nunca haviam sido cortadas, sendo por esta caçoada, seguiu-se violenta luta corporal, Xangô mostrou toda sua irritação e furor. Oxum e Obá, fugiram apavoradas e transformaram-se nos rios que levam seus nomes.
Motivo pelo qual, quando Obá se manifesta em alguma das suas iniciadas, leva a mão para cobrir a orelha esquerda, ou ata-se um torço (turbante), a fim de esconder uma das orelhas. Sua cor é vermelha. Sua saudação: Oba sire (Obá xirê).
QUALIDADES:
1. Obá Gideo: Xangô, Oyá, Oxum = Iemanjá
2. Obá Rewá: Oyá e Xangô
ARQUÉTIPO:
São pessoas valorosas e incompreendidas. Suas tendências são um pouco viril. As suas atitudes militantes e agressivas são conseqüências de experiências infelizes ou amargas por elas vividas. Os seus insucessos devem-se, freqüentemente, a um ciúme um tanto mórbido. Entretanto, encontram compensação para as frustrações sofridas em sucessos materiais, onde a sua avidez de ganho e o cuidado de nada perder dos seus bens tornam-se garantia de sucesso.
PARTICULARIDADES:
DIA: quarta-feira
DATA: 30 e 31 de maio
METAL: cobre
COR: marrom rajado
PARTES DO CORPO: audição, orelha e junto com EWA, protege o consciente.
SÍMBOLO: Ofangi (espada) e um escudo de cobre.
SACRIFÍCIO: Oyá
ELEMENTO: fogo
FOLHAS: Candeia, negamina, folha de amendoeira.

Ogum - O perfil do Orixá

Divindade masculina ioruba, figura que se repete em todas as formas mais conhecidas da mitologia universal. Ogum é o arquétipo do guerreiro. Bastante cultuado no Brasil, especialmente por ser associado à luta, à conquista, é a figura do astral que, depois de Exu, está mais próxima dos seres humanos. Foi uma das primeiras figuras do candomblé incorporada por outros cultos, notadamente pela Umbanda, onde é muito popular.
Tem sincretismo com São Jorge ou com Santo Antônio, tradicionais guerreiros dos mitos católicos, também lutadores, destemidos e cheios de iniciativa. A relação de Ogum com os militares (é considerado o protetor de todos os guerreiros) tanto vem do sincretismo realizado com São Jorge, sempre associado às forças armadas, como da sua figura de comandante supremo ioruba. Dizem as lendas que se alguém, em meio a uma batalha, repetir determinadas palavras (que são do conhecimento apenas dos iniciados), Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o evocou. Porém, elas (as palavras) não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, tendo excitado a fúria por sangue do Orixá, detonaram um processo violento e incontrolável; se não encontrar inimigos diante de si após te sido evocado, Ogum se lançará imediatamente contra quem o chamou.
Ogum não era, segundo as lendas, figura que se preocupasse com a administração do reino de seu pai, Odudua; ele não gostava de ficar quieto no palácio, dava voltas sem conseguir ficar parado, arrumava romances com todas as moças da região e brigas com seus namorados. Não se interessava pelo exercício do poder já conquistado, por que fosse a independência a ele garantida nessa função pelo próprio pai, mas sim pela luta.
3 mai Ogum, portanto, é aquele que gosta de iniciar as conquistas mas não sente prazer em descansar sobre os resultados delas, ao mesmo tempo é figura imparcial, com a capacidade de calmamente exercer (executar) a justiça ditada por Xangô.
É muito mais paixão do que razão:
Aos amigos, tudo, inclusive o doloroso perdão.
Aos inimigos, a cólera mais implacável, a sanha destruidora mais forte.
Segundo as pesquisas de Monique Augras, na África, Ogum é o deus do ferro, a divindade que brande a espada e forja o ferro, transformando-o no instrumento de luta. Assim seu poder vai-se expandindo para além da luta, sendo o padroeiro de todos os que manejam ferramentas: ferreiros, barbeiros, tatuadores, e, hoje em dia, mecânicos, motoristas de caminhões e maquinistas de trem.
É, por extensão o Orixá que cuida dos conhecimentos práticos, sendo o patrono da tecnologia. Do conhecimento da guerra para o da prática: tal conexão continua válida para nós, pois também na sociedade ocidental a maior parte das inovações tecnológicas vem justamente das pesquisas armamentistas, sendo posteriormente incorporada à produção de objetos de consumo civil, o que é particularmente notável na industria automobilística, de computação e da aviação.
Assim, Ogum não é apenas o que abre as picadas na matas e derrota os exércitos inimigos; é também aquele que abre os caminhos para a implantação de uma estrada de ferro, instala uma fábrica numa área não industrializada, promove o desenvolvimento de um novo meio de transporte, luta não só contra o homem, mas também contra o desconhecido.
É pois, o símbolo do trabalho, da atividade criadora do homem sobre a natureza, da produção e da expansão, da busca de novas fronteiras, de esmagamento de qualquer força que se oponha à sua própria expansão.
Tem, junto com Exu, posição de destaque logo no início de um ritual. Tal como Exu, Ogum também gosta de vir à frente. A força de Ogum está tanto na coragem de se lançar à luta como na objetividade que o domina nesses momentos (e o abandona nos momentos de prazer e gozo). É fácil, nesse sentido, entender a popularidade de Ogum:
Em primeiro lugar, o negro reprimido, longe de sua terra, de seu papel social tradicional, não tinha mais ninguém para apelar, senão para os dois deuses que efetivamente o defendiam:
Exu (a magia) e Ogum (a guerra); segundo Pierre Verger.
Em segundo lugar, além da ajuda que pode prestar em qualquer luta, Ogum é o representante no panteão africano não só do conquistador mas também do trabalhador manual, do operário que transforma a matéria-prima em produto acabado:
Ele é a própria apologia do ofício, do conhecimento de qualquer tecnologia com algum objetivo produtivo, do trabalhador, em geral, na sua luta contra as matérias inertes a serem modificadas .
Ogum gosta do preto no branco, dos assuntos definidos em rápidas palavras, de falar diretamente a verdade sem ter de preocupar-se em adaptar seu discurso para cada pessoa. Ogum gosta de dormir no chão, precisa que o corpo entre em contato sempre direto com a natureza e dispensa roupas elaboradas e caras, que possam ser complicadas de vestir ou que exijam muito espaço na mochila.
Não tem compromisso com ninguém, nem com seus próprios objetos. A violência e a energia, porém não explicam Ogum totalmente. Ele não é o tipo austero, embora sério e dramático, nunca contidamente grave.
Quando irado, é implacável, apaixonadamente destruidor e vingativo; quando apaixonado, sua sensualidade não se contenta em esperar nem aceita a rejeição. Ogum sempre ataca pela frente, de peito aberto, como o clássico guerreiro. Existem sete tipos diferentes de Ogum, mas Ogum Xoroquê merece um destaque específico, pois é um Orixá masculino duplo, ou seja possui duas formas diferentes de manifestação.
É associado à irmandade e afinidade estreita de Ogum com Exu, pois passa seis meses do ano como Ogum e os outros como Exu, sendo considerado guerreiro feroz, irascível e imbatível.

Caracteristicas dos filhos de Ogum

Não é difícil reconhecer um filho de Ogum. Tem um comportamento extremamente coerente, arrebatado e passional, aonde as explosões, a obstinação e a teimosia logo avultam, assim como o prazer com os amigos e com o sexo oposto.
Os homens e mulheres que têm Ogum como seu Orixá de cabeça, vão ter comportamentos diferentes, de acordo com os segundos e terceiros Orixás que os influencia ajuntós (adjutores).
De qualquer forma , terão alguns traços comuns:
são conquistadores, incapazes de fixar-se num mesmo lugar, gostando de temas e assuntos novos, conseqüentemente apaixonados por viagens, mudanças de endereço e de cidade.
Um trabalho que exija rotina, tornará um filho de Ogum um desajustado e amargo.
São apreciadores das novidades tecnológicas, são pessoas curiosas e resistentes, com grande capacidade de concentração no objetivo em pauta; a coragem é muito grande, a franqueza absoluta, chegando mesmo à falta de tato.

Omolu - Perfil do Orixá

Esta pesquisa se dedica ao Orixá da Doença ou Orixá da Varíola. Ambos os nomes surgem quando nos referimos à esta figura, seja Omolu seja Obaluaê. Para a maior parte dos devotos do Candomblé e da Umbanda, os nomes são praticamente intercambiáveis, referentes a um mesmo arquétipo e, correspondentemente, uma mesma divindade. Já para alguns babalorixás, porém, há de se manter certa distância entre os dois termos, uma vez que representam tipos diferentes do mesmo Orixá.
São também comuns as variações gráficas Obaluaê, Abalaú, Obaluaiê e Abaluaê. Em termos mais estritos, Obaluaê é a forma jovem do Orixá Xapanã, enquanto Omolu é sua forma velha.
Como porém, Xapanã é um nome proibido tanto no Candomblé como na Umbanda, não devendo ser mencionado pois pode atrair a doença inesperadamente, a forma Omolu é a que mais se popularizou e acabou sendo confundida não apenas com a forma mais velha do Orixá, mas com sua essência genérica em si. Esta distinção se aproxima da que existe entre as formas básica de Oxalá: Oxalá (o Crucificado), Oxaguiã a forma jovem e Oxalufã a forma mais velha.
A figura de Omolu-Obaluaê, assim como seus mitos, é completamente cercada de mistérios e dogmas indevassáveis. Em termos gerais, a essa figura é atribuído o controle sobre todas as doenças, especialmente as epidêmicas. Faria parte da essência básica vibratória do Orixá tanto o poder de causar a doença como o de possibilitar a cura do mesmo mal que criou. Em algumas narrativas mais tradicionalistas tentam apontar-se que o conceito original da divindade se referia ao deus da varíola, tal visão porém, nos parece uma evidente limitação.
A varíola não seria a única doença sob seu controle, simplesmente pôr ser a epidemia mais devastadora e perigosa que conheciam os habitantes da comunidade original africana, onde surgiu Omolu-Obaluaê, o Daomé.Assim, sombrio e grave como Iroco, Oxumarê (seus irmãos) e Nanã (sua Mãe), Omolu-Obaluaê é uma criatura da cultura jeje, posteriormente assimilada pelos iorubas. Enquanto os Orixás iorubanos são extrovertidos, de têmpera passional, alegres, humanos e cheios de pequenas falhas que os identificam com os seres humanas, a figuras daomeanas estão mais associadas a uma visão religiosa em que distanciamento entre deuses e seres humanos é bem maior.
Quando há aproximação, há de se temer, pois alguma tragédia está para acontecer, pois os Orixás do Daomé são austeros no comportamento mitológico, graves e conseqüentes em suas ameaças. A visão de Omolu-Obaluaê é a do castigo. Se um ser humano falta com ele ou um filho-de-santo seu é ameaçado, o Orixá castiga com violência e determinação, sendo difícil uma negociação ou um aplacar, mais prováveis nos Orixás iorubas.
Pierre Verger, nesse sentido, sustenta que a cultura do Daomé é muito mais antiga que a ioruba, o que pode ser sentido em seus mitos: A antiguidade dos cultos de Omolu- Obaluaê e Nanã (Orixá feminino), freqüentemente confundidos em certas partes da África, é indicada por um detalhe do ritual dos sacrifícios de animais que lhe são feitos. Este ritual é realizado sem o emprego de instrumentos de ferro, indicando que essas duas divindades faziam parte de uma civilização anterior à Idade do Ferro e à chegada de Ogum.
Como parte do temor dos iorubas, eles passaram a enxergar a divindade (Omolu-Obaluaê) mais sombria dos dominados como fonte de perigo e terror, entrando num processo que podemos chamar de malignidade de um Orixá do povo subjugado, que não encontrava correspondente completo e exato (apesar da existência similar apenas de Oçanhe). Omolu-Obaluaê seria o registro da passagem de doenças epidêmicas, castigos sociais, já que atacariam toda uma comunidade de cada vez. Existe uma grande variedade de tipos de Omolu-Obaluaê, como acontece praticamente com todos os Orixás.
Existem formas guerreiras e não guerreiras, de idades diferentes, etc., mas resumidos pelas duas configurações básicas do velho e do moço. A diversidade de nomes pode também nos levar a raciocinar que existem mitos semelhantes em diferentes grupos tribais da mesma região, justificando que o Orixá é também conhecido como Skapatá, Omolu Jagun, Quicongo, Sapatoi, Iximbó, Igui.

Caracteristicas dos filhos de Omolu-Obaluaê

Ao senhor da doença é relacionado um arquétipo psicológico derivado de sua postura na dança: se nela Omolu-Obaluaê esconde dos espectadores suas chagas, não deixa de mostrar, pelos sofrimentos implícitos em sua postura, a desgraça que o abate.
No comportamento do dia-a-dia, tal tendência se revela através de um caráter tipicamente masoquista. Pierre Verger define os filhos de Omolu como pessoas que são incapazes de se sentirem satisfeitas quando a vida corre tranqüila para elas. Podem até atingir situações materiais e rejeitar, um belo dia, todas essas vantagens por causa de certos escrúpulos imaginários.
São pessoas que, em certos casos, se sentem capazes de se consagrar ao bem-estar dos outros, fazendo completa abstração de seus próprios interesses e necessidades vitais. No Candomblé, como na Umbanda, tal interpretação pode ser demais restritiva. A marca mais forte de Omolu-Obaluaê não é a exibição de seu sofrimento, mas o convívio com ele.
Ele se manifesta numa tendência autopunitiva muito forte, que tanto pode revelar-se como uma grande capacidade de somação de problemas psicológicos (isto é, a transformação de traumas emocionais em doenças físicas reais), como numa elaboração de rígidos conceitos morais que afastam seus filhos-de-santo do cotidiano, das outras pessoas em geral e principalmente os prazeres. Sua insatisfação básica, portanto, não se reservaria contra a vida, mas sim contra si próprio, uma vez que ele foi estigmatizado pela marca da doença, já em si uma punição.
Em outra forma de extravasar seu arquétipo, um filho do Orixá , menos negativista, pode apegar-se ao mundo material de forma sôfrega, como se todos estivessem perigosamente contra ele, como se todas as riquezas lhe fossem negadas, gerando um comportamento obsessivo em torno da necessidade de enriquecer e ascender socialmente. Mesmo assim, um certo toque do recolhimento e da autopunição de Omolu-Obaluaê serão visíveis em seus casamentos: não raro se apaixonam por figuras extrovertidas e sensuais (como a indomável Iansã, a envolvente Oxum, o atirado Ogum) que ocupam naturalmente o centro do palco, reservando ao cônjuge de Omolu-Obaluaê um papel mais discreto.
Gostam de ver seu amado brilhar, mas o invejam, e ficam vivendo com muita insegurança, pois julgam o outro, fonte de paixão e interesse de todos. Assim como Oçanhe, as pessoas desse tipo são basicamente solitárias. Mesmo tendo um grande círculo de amizades, freqüentando o mundo social, seu comportamento seria superficialmente aberto e intimamente fechado, mantendo um relacionamento superficial com o mundo e guardando sua intimidade ara si própria. Não raro são pessoas que julgam.
Ter características detestáveis, que vivem criticando, motivo de vergonha. O filho do Orixá oculta sua individualidade com uma máscara de austeridade, mantendo até uma aura de respeito e de imposição, de certo medo aos outros. Pela experiência inerente a um Orixá velho, são pessoas irônicas. Seus comentários porém não são prolixos e superficiais, mas secos e diretos, o que colabora para a imagem de terrível que forma de si próprio.
Um último, mas importante detalhe; em diversas de suas lendas, o Orixá da varíola é apresentado como uma divindade que perdeu uma perna. Isso se refletiria em seus filhos como um defeito congênito em uma das pernas ou a tendência a sofrer, durante sua vida, por um problema de relativa gravidade em seus membros inferiores, a partir de quedas ou desastres que podem ou não ser curados e ultrapassados.

O que é a Rozabal ?

É uma edificação sagrada localizada no bairro de Khanyar, capital de Cachemira, Índia. Rozabal quer dizer a tumba do profeta e conserva em seu interior, segundo a tradição, os restos mortais do místico Yuz Asaf, também conhecido como Hazrat Issa.
De acordo com Mulla Nadiri, o primeiro historiador muçulmano de Cachemira, Yuz Asaf (o Yuzu das tribos de Israel) proclamou a sua condição de profeta no ano 54 d.C. .
A filosofia de Yuz Asaf era um bocado estranha para os habitantes da região, mas muito familiar para os cristãos. O curioso é que a tumba do profeta, muitas vezes restaurada, é orientada conforme o costume judeu, de este para oeste, enquanto que todas as sepulturas existentes em um cemitério situado na área dos fundos da Rozabal, obedecem a orientação islâmica, de norte a sul.
A Rozabal é venerada por hindus e muçulmanos, alguns dos quais chegam a sugerir que, Yuz Asaf e o Jesus dos cristãos eram a mesma pessoa. Nas imediações da peça sepulcral, há um bloco de pedra com um baixo relevo que representa os pés do profeta. Os pés retratados têm marcas de perfuração, semelhantes às que deviam sofrer os crucificados.
Atualmente muitos pesquisadores defendem a tese, de que Jesus não morreu na cruz e que a Rozabal, guardaria seus restos. Jesus teria se casado e tido filhos; sua morte teria ocorrido em idade avançada.