domingo, 22 de agosto de 2004

O Sacramento do Cruzamento

O cruzamento foi o primeiro sacramento que o Beato-Rezador instituiu, quando começaram a aparecer os primeiros rezadores da Umbanda Mística.
Estes adeptos místicos, pelas suas concentrações e exteriorizações, começaram a receber incorporações de espíritos sofredores e mesmo de Espíritos-Guias, a que davam o nome de Caboclos ou Pretos Velhos. Quando um adepto ou não-adepto era possuído pelo sofredor ou coisa-ruim, Exu ou zombeteiro, o Beato-Rezador o benzia, aspergindo em cruz a água benta que se adquiria na igreja católica; o sofredor ou coisa-ruim se afastava, e a pessoa tomava o conhecimento de sua personalidade.
Com a infiltração do negro, do mestiço e do índio como adeptos (médiuns), passou-se a fazer sete cruzes com a água benta e a usar folhas de guine, de arruda e de alecrim-de-cheiro, que era molhadas na água benta, e com, isso o resultado era melhor.
Mas o negro, conhecedor da pemba, originada da África, começou a encomendar aos tripulantes dos navios mercadores que faziam a rota pela África, a dita pemba, com a qual fazia as sete cruzes nos possessos de espíritos sofredores e do coisa-ruim. O resultado foi melhor, mas não deixaram de cruzar com a água benta e as três ervas sagradas – a guine, a arruda e o alecrim. Mas o numero de pessoas e adeptos que caiam possessos diminuiu, e quase se extinguiu.
Com isso, os iniciadores de adeptos passaram a cruzar, instituindo o primeiro sacramento, que não era de origem católica. E toda a pessoa que quisesse ser adepto (a) teria que fazer o sacramento de cruzamento, que foi aperfeiçoado com o tempo.
Já na década de cinqüenta a Umbanda Mística exercia seus sacramentos todos, e o cruzamento se fazia:
A - Cruzando o possesso com pemba, para afastar o sofredor ou coisa-ruim.
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B - Cruzando os médiuns, para que não recebessem o sofredor e sim o Guia, como o Caboclo, o Preto Velho ou Criança.
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C - Cruzando imagens, objetos e casas, para lhes dar mais força, e para se responder os pedidos sem a interferência dos sofredores e maus espíritos.
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D - O cruzamento que precedia a todos os outros sacramentos: até nas oferendas se cruzava o alguidar (prato ou panela), antes de se depositar a oferenda; o galo ou outros animal era cruzado, antes de ser sacrificado à entidade espiritual. Enfim, tudo era cruzado: guia-colar, cachimbo, coité, punhal, toco (banquinho), bengala, etc.
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E - O Sacramento do cruzamento é uma espécie de “fechamento de corpo”, para que os espíritos inconvenientes ou coisa-ruim não possam mais se apoderar da pessoa, médiuns ou adepto.
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Notem: todo sacramento feito na Umbanda Mística é acompanhado de festas e comes e bebes, o que é de tradição, e, geralmente, quem faz o sacramento do cruzamento é o Guia-Chefe espiritual do terreiro.

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